Por Seyyed Hossein Nasr
Traduzido por Sandro Faria e Nuno Almeida
Não existe nada mais premente para discutir do que a questão da crise ambiental e das verdades e falsidades associadas a todo este assunto. A palavra “crise” não é utilizada neste contexto por acidente, pois trata‐se seguramente de uma verdadeira crise, a qual segue o encalço daquela crise espiritual e intelectual que é indissociável da perspectiva predominante do mundo moderno. Aquela crise anterior que René Guénon discutiu há praticamente um século atrás em várias obras, incluindo em Crise do Mundo Moderno, a qual era conhecida por uns poucos e ignorada pela maioria. A crise ambiental é todavia demasiado manifesta para ser ignorada, mesmo pela multidão. É uma crise de extrema gravidade e urgência e qualquer um que a menospreze está simplesmente a enganar‐se a si mesmo ou a sonhar acordado. Porém, está na nossa natureza tentarmos nos esquivar do confronto com o que exige de nós as mais profundas transformações interiores.
Poderá ser da nossa natureza tentarmos nos esquivar de um perigo eminente a menos que estejamos verdadeiramente perante ele, mas a razão pela qual não o pretendemos encarar é precisamente por ser um perigo. O cenário sério, retratado por académicos e cientistas honestos que estão interessados no futuro da humanidade, pode, frequentemente, ser anulado por uma empresa de filmagens que envie uma câmara para a floresta para fotografar uns poucos pássaros a voar por ali, com a pretensão de mostrar quão “normal” é a situação ambiental da terra, mesmo em zonas urbanas. Mas a verdade é o oposto. Estamos perto de uma enorme crise, a qual tem que ser considerada de forma completamente séria. Mormente, é também necessário compreender que a crise ambiental não pode ser resolvida através de boa engenharia (ou melhor engenharia); não pode ser resolvida através de planeamento económico; nem mesmo pode ser resolvida através de modificações de cosmética na nossa concepção do desenvolvimento e da mudança. A crise ambiental requer uma transformação muito radical na nossa consciência, e isto não significa descobrir um estado de consciência completamente novo, mas sim regressar ao estado de consciência que a humanidade tradicional sempre teve. Significa redescobrir a forma tradicional de olhar para o mundo da natureza como presença sagrada.
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