11 novembro 2012

Dia de São Martinho (magustos, vinho novo, fogueiras e luz) e Dhanteras, a celebração das Luzes


Desde a Idade Média que o dia 11 de novembro é vivenciado na Europa em honra de São Martinho. Este dia "coincide" com a época do ano em que se celebra o culto dos antepassados (Todos os Santos e Fiéis Defuntos) e com a altura do calendário rural em que terminam os trabalhos agrícolas e se começa a usufruir das colheitas (do vinho, dos frutos, dos animais). Ver mais aqui.


Tendo em conta a lenda portuguesa, S. Martinho é invocado nas cerimónias religiosas dos locais de culto, e o seu espírito de solidariedade lembrado.


No entanto, este dia traz igualmente consigo uma outra ligação - a luz (representada pelas fogueiras) enquanto mote de preparação para o Inverno, para o recolhimento e para a interiorização. O conto europeu A menina da lanterna protagoniza um exemplo da renovação dessa luz interior. Tal como se refere aqui,

"No princípio do caminho, a menina encontra alguns animais que representam os nossos instintos mais básicos. É a partir do aparecimento da Estrela que começa o seu verdadeiro desenvolvimento interior. O menino da lã tece o fio do "pensamento", o sapateiro representa a força e a acção que nos mantêm os pés assentes na terra e o menino da bola simboliza os nossos sentimentos. Estão aqui as três partes que formam o ser humano: "o pensar ", "o querer" e "o sentir". São estes elementos que, como a história revela, necessitam de ser trabalhados, dominados, transformados e renovados. O fogo, também aqui predominante, é o elemento da natureza que representa a transformação e a purificação.
(...) Se pensarmos com luz, a nossa vida brilhará, e se não desistirmos, poderemos sempre renovar a nossa luz interior e com ela iluminar os que nos rodeiam. (Casa Verdes Anos)"




Este dia 11 de novembro marca também o início das celebrações das Luzes na India - Diwali. As suas vivências começam com Dhantryodashi, o primeiro dos cinco dias de festa que se seguirão: Narak Chaturdashi ou Chotti Diwali, Deepawali (Diwali), Govardhan Puja e Bhai Dooj.

Como está referido aqui, Deepavali ou Diwali significa literalmente "fileira de luzes". Ocorre no dia de Lua Nova, marcando a passagem das trevas para a Luz. Tradicionalmente pequenas lâmpadas de argila com óleo são acesas para representar o triunfo do bem sobre o mal. Somos lembrados de que a centelha da luz divina habita em todos os nossos corações.
(...)
É também a festa para convidar a prosperidade e a riqueza. (...) 

O nome tradicional da Índia é Bharata e os indianos são Bharatias – ou ‘aqueles que se deleitam em luz'. Durante a noite de Diwali, inumeráveis pequenas lamparinas de barro (diyas) silenciosamente enviam adiante a mensagem de Diwali: "Venha, deixe-nos remover a escuridão da face da terra".
O dharma (dever) do fogo é o mesmo onde quer que esteja: na casa de um homem pobre, de um homem rico, na América, na Antártica, ou no Himalaia. Dar luz e calor. A chama sempre aponta para cima. Ainda que mantenhamos a lâmpada de cabeça para baixo, a chama queimará para cima. A mensagem é que nossa mente deve estar focalizada no Atman, o Ser, onde quer que nós estejamos. As lâmpadas lembram-nos de nosso dharma – compreender nossa natureza divina.
"O Ser é pura consciência que é auto-luminosa. A cognição de todos objetos surge da luz de pura Consciência ". – Bhrihadaranyaka Upanishad.
Uma lâmpada pode acender vários outras. Você mesmo pode acender 1000 lâmpadas, e ainda a chama e a luz da primeira lâmpada permanecerá como é. Ao multiplicar-se, a luz nada perde. As luzes de Diwali representam Brahman e a criação. Passando a mensagem do mantra: 

"Purnamada Purnamidam Purnaat Purnamudachyate Purnasya Purnamadaya Purnamevasishyate"

As filas de lâmpadas ensinam mais outra importante lição de união. A luz que brilha no Sol, na lua, nas estrelas, e no fogo são todas as mesmas. Ver e reconhecer aquela luz, a luz da Consciência, que se manifesta e pulsa em e por toda criação é a meta da vida. Assim, reconhecendo toda criação como uma expressão do seu Verdadeiro Ser, espalhe a luz de amor e compaixão.
As luzes de Diwali são exibidas nas portas de entrada, pelas paredes das casas, nas ruas e alamedas. Isso significa que a luz espiritual interior do indivíduo deve ser refletida do lado de fora. Deve beneficiar a sociedade. Assim, um transeunte pode ser ajudado a prevenir de tropeçar no caminho de alcançar seu destino.
Alimentar os estômagos vazios de quem tem fome, acender diyas de festança e trazer à luz àqueles que vivem na escuridão é o verdadeiro espírito de Diwali. Esta é a verdadeira oração.




De acordo com a mitologia indiana, foi precisamente neste dia que materializou pela primeira vez Dhanvantari, a encarnação de Vishnu como avatar da medicina, o Pai da Ayurveda. Emergindo do "Oceano de Leite", carregava um pote de amrita  (néctar da imortalidade) numa mão e as doutrinas do Ayurveda na outra.

Que a luz esteja sempre presente!