Desde
a Idade Média que o dia 11 de novembro é vivenciado na Europa em
honra de São Martinho. Este dia "coincide" com a época do
ano em que se celebra o culto dos antepassados (Todos os Santos e
Fiéis Defuntos) e com a altura do calendário rural em que terminam
os trabalhos agrícolas e se começa a usufruir das colheitas (do
vinho, dos frutos, dos animais). Ver
mais aqui.
Tendo
em conta a lenda portuguesa,
S. Martinho é invocado nas cerimónias religiosas dos locais de
culto, e o seu espírito de solidariedade lembrado.
No
entanto, este dia traz igualmente consigo uma outra ligação - a luz
(representada pelas fogueiras) enquanto mote de preparação para o
Inverno, para o recolhimento e para a interiorização. O conto
europeu A menina da lanterna protagoniza
um exemplo da renovação dessa luz interior. Tal como se refere aqui,
"No
princípio do caminho, a menina encontra alguns animais que
representam os nossos instintos mais básicos. É a partir do
aparecimento da Estrela que começa o seu verdadeiro desenvolvimento
interior. O menino da lã tece o fio do "pensamento", o
sapateiro representa a força e a acção que nos mantêm os pés
assentes na terra e o menino da bola simboliza os nossos sentimentos.
Estão aqui as três partes que formam o ser humano: "o pensar
", "o querer" e "o sentir". São estes
elementos que, como a história revela, necessitam de ser
trabalhados, dominados, transformados e renovados. O fogo, também
aqui predominante, é o elemento da natureza que representa a
transformação e a purificação.
(...)
Se pensarmos com luz, a nossa vida brilhará, e se não desistirmos,
poderemos sempre renovar a nossa luz interior e com ela iluminar os
que nos rodeiam. (Casa Verdes Anos)"
Este
dia 11 de novembro marca também o início das celebrações das
Luzes na India - Diwali. As suas vivências começam com
Dhantryodashi, o primeiro dos cinco dias de festa que se
seguirão: Narak Chaturdashi ou Chotti Diwali, Deepawali
(Diwali), Govardhan Puja e Bhai Dooj.
Como
está referido aqui, Deepavali ou Diwali significa literalmente
"fileira de luzes". Ocorre no dia de Lua Nova, marcando a
passagem das trevas para a Luz. Tradicionalmente pequenas lâmpadas
de argila com óleo são acesas para representar o triunfo do bem
sobre o mal. Somos lembrados de que a centelha da luz divina habita
em todos os nossos corações.
(...)
É
também a festa para convidar a prosperidade e a riqueza. (...)
O nome
tradicional da Índia é Bharata e os indianos são Bharatias – ou
‘aqueles que se deleitam em luz'. Durante a noite de Diwali,
inumeráveis pequenas lamparinas de barro (diyas) silenciosamente
enviam adiante a mensagem de Diwali: "Venha, deixe-nos remover a
escuridão da face da terra".
O dharma (dever)
do fogo é o mesmo onde quer que esteja: na casa de um homem pobre,
de um homem rico, na América, na Antártica, ou no Himalaia. Dar luz
e calor. A chama sempre aponta para cima. Ainda que mantenhamos a
lâmpada de cabeça para baixo, a chama queimará para cima. A
mensagem é que nossa mente deve estar focalizada no Atman, o Ser,
onde quer que nós estejamos. As lâmpadas lembram-nos de nosso
dharma – compreender nossa natureza divina.
"O
Ser é pura consciência que é auto-luminosa. A cognição de todos
objetos surge da luz de pura Consciência ". – Bhrihadaranyaka
Upanishad.
Uma
lâmpada pode acender vários outras. Você mesmo pode acender 1000
lâmpadas, e ainda a chama e a luz da primeira lâmpada permanecerá
como é. Ao multiplicar-se, a luz nada perde. As luzes de Diwali
representam Brahman e a criação. Passando a mensagem do
mantra:
"Purnamada Purnamidam Purnaat Purnamudachyate Purnasya Purnamadaya Purnamevasishyate"
As
filas de lâmpadas ensinam mais outra importante lição de união. A
luz que brilha no Sol, na lua, nas estrelas, e no fogo são todas as
mesmas. Ver e reconhecer aquela luz, a luz da Consciência, que se
manifesta e pulsa em e por toda criação é a meta da vida. Assim,
reconhecendo toda criação como uma expressão do seu Verdadeiro
Ser, espalhe a luz de amor e compaixão.
As
luzes de Diwali são exibidas nas portas de entrada, pelas paredes
das casas, nas ruas e alamedas. Isso significa que a luz espiritual
interior do indivíduo deve ser refletida do lado de fora. Deve
beneficiar a sociedade. Assim, um transeunte pode ser ajudado a
prevenir de tropeçar no caminho de alcançar seu destino.
Alimentar
os estômagos vazios de quem tem fome, acender diyas de festança e
trazer à luz àqueles que vivem na escuridão é o verdadeiro
espírito de Diwali. Esta é a verdadeira oração.
De
acordo com a mitologia indiana, foi precisamente neste dia que
materializou pela primeira vez Dhanvantari, a encarnação de Vishnu
como avatar da medicina, o Pai da Ayurveda. Emergindo do "Oceano
de Leite", carregava um pote de amrita (néctar da
imortalidade) numa mão e as doutrinas do Ayurveda na outra.
Que a luz esteja sempre presente!