20 dezembro 2011

Sexualidade e maternidade recente


Fonte: Laura Gutman, traduzida por Tai Nilo in http://amayum.wordpress.com/


Sabemos que o corpo demora em se reacomodar depois da gravidez e o parto... mas supomos que logo mais tudo vai "ser como antes". A maior surpresa irrompe quando o desejo sexual não aparece como estávamos acostumadas. Sentimo-nos culpadas, principalmente quando o obstetra dá a permissão para recomeçar as relações sexuais para alegria do parceiro que com cara de satisfação pisca o olho e fica todo animado...


Mas o corpo não responde. A libido encontra-se  nos peitos aonde acontece atividade sexual constante, dia e noite. O esgotamento é total ,  as sensações afetivas e corporais tornam-se muito sensíveis e a pele é como de um fino cristal  precisando ser tocado com extrema delicadeza. O tempo prolonga – se ; qualquer ruído é incomodo,  fusionamo-nos com as sensações do bebê , ou seja ,   a vivência de nadar num oceano imenso e desconhecido..
Tomamos a decisão intelectual de responder às demandas lógicas do homem, de satisfazê-lo  e  reencontra-lo . Mas não funciona … só se fizéssemos uma desconexão das nossas  mais intimas e verdadeiras sensações ( muitas de nós estamos bem treinadas para isso). Em geral estamos pouco conectadas com a nossa sexualidade profunda e feminina  , navegamos facilmente no desejo do outro, com o propósito de  agradar e ser querida.  Afastamo -nos da nossa essência e vamos nos acostumando a sentir segundo os parâmetros de outro corpo , outro gênero.. Ficamos desorientadas perante o desconhecimento das nossas próprias regras regidas por um feminino que passa desapercebido  na profundidade do nosso ser essencial.
É  essa essência da alma feminina que aflora com a aparição d@ filh@  e principalmente com o vinculo fusional  que é estabelecido entre o bebê e a mulher florescida .
Para que compreensão leva-nos a presença do bebê?
Acho que para um lugar-estado aonde homem e mulher se conectam com a parte feminina da nossa essência e a nossa sexualidade.. é sutil , lenta, feita de abraços e caricias . É uma sexualidade que não precisa de penetração nem performance corporal, ao contrario, prefere tato, ouvido, olfato, tempo, doces  palavras , encontro, música, risos, massagem e beijos.
Dessa forma não há risco, por que não fere a alma feminina fusionada .Não há propósitos, inclusive as vezes não há orgasmos já que o que importa mesmo é o encontro amoroso e humano . Há compreensão e acompanhamento da realidade física e emocional pela qual atravessa uma mulher com bebê no colo. Neste sentido é importante perceber que o bebê sempre está nos braços da mãe ; mesmo que fisicamente esteja dormindo  do lado ou em outra cama . Ele participa emocionalmente no encontro amoroso entre os pais ;  por isso é fundamental que seja suave, baixinho, acolhedor..
O surgimento de um filho outorga – nos a oportunidade de registrar e desenvolver pela primeira vez  as modalidades femininas que tanto homens como mulheres   conservamos como sendo parte dos nossos funcionamentos sociais , afetivos e é claro, também sexuais. Ou seja: sem objetivos, sem obrigação, sem demonstração de destrezas físicas…simplesmente podemos descobrir essas outras  “ maneiras femininas” que enriquecerão a nossa vida sexual futura, por que integramos aspectos desconhecidos de nós mesmos.
Nós Todas – mulheres – desejamos prolongados abraços, apaixonados beijos ,massagem nas costas , conversas, olhares , calor  e disponibilidade do homem . Mas o mal entendido que gera qualquer aproximação física que possa ser interpretada como um convite ao ato sexual obrigatoriamente  induz a mulher a se afastar de antemão para se proteger e também recusar qualquer gesto carinhoso, intensificando  o desapontamento do homem diante de um  aparente desamor.
Por isso é imprescindível que feminizemos a sexualidade, durante o tempo da fusão emocional entre mãe e criança; quer dizer, ao redor dos dois primeiros anos. Isto permite curtir, e ao mesmo tempo desenvolver capacidades de comunicação e afeto que em outras circunstâncias não teríamos desenvolvido. O sexo pode ser muito mais pleno, mais doce e completo se compreendemos que chegou a hora de descobrir o universo feminino,  o redondo dos corpos e a sensibilidade  pura.
Acariciemos uns aos outros até morrer!!!!!  Permitamo – nos coitos muito mais elevados que as meras penetrações vaginais denominadas de “relações sexuais completas” – Como se o prazer  estivesse limitado por  praticas esquematizadas assim…
Acho que têm uma luta cultural entre o que todos achamos que é certo e o que realmente passa-se em nós. Acontece com nós – mulheres, que não podemos mais fazer amor como antes, Os homens ficam bravos, angustiados e afastam – se  , ao invés de ambos estarem envolvidos no que acontece como uma tríade (incluindo o bebê)
Por outro lado talvez algumas mulheres começamos a reconhecer  -por primeira vez – o calor da sexualidade feminina, que além da excitação corporal inclui uma intensa consciência sensorial. As vezes desconhecemos os ritmos naturalmente femininos e esforçamo –nos  por pertencer  a uma modernidade  aonde as sensações mais intimas não têm valor , não liga –se pra elas.  A sexualidade precisa ocasionalmente de visitas de criaturas fantásticas, fadas e duendes que despertem com uma varinha mágica  os desejos ardentes da alma das mulheres para que o sexo derrame amor e fantasia.
Nessas ocasiões suspeitamos que o sexo é sagrado e sensual: acontece quando uma brisa percorre o corpo físico , produzida por um beijo, uma palavra amorosa, uma piada, um olhar cheio de desejo. Nesses precisos momentos vibramos por nos sentir amadas e rejuvenescemos em poucos segundos em  explosões de vida e paixão.