07 agosto 2013

Amamentar, Saúde e Prazer

Para finalizar a semana mundial do aleitamento materno, sugiro este documentário gravado em 2002 pelo grupo de apoio à amamentação "Regazo" e um excerto do livro "A Maternidade e o encontro com a própria sombra" de Laura Gutman:

A lactação é a continuação e o desenvolvimento dos nossos aspectos mais terrenos, selvagens, directos, filogenéticos. Para dar de mamar, as mulheres deveriam passar quase todo o tempo nuas, sem largar a sua cria, imersas num tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaboração de pensamentos, sem a necessidade de se defender de nada nem de ninguém, mas tão somente abstraídas em um espaço imaginário e invisível aos demais. Dar de mamar é isso. É deixar aflorar nossos recantos ancestralmente esquecidos ou negados, nossos instintos animais que imaginemos que estavam aninhados no nosso âmago. (...)
Dar de mamar é despojar-se das mentiras que nos contamos durante toda a vida sobre quem somos ou quem deveríamos ser. É estarmos soltas, poderosas, famintas, como lobas, leoas, tigresas, cangurus, ou gatas. Muito semelhantes às mamíferas de outras espécies no seu total apego pelas crias, ignorando o resto da comunidade, mas atentas milimetricamente, às necessidades do recém-nascido.

Extasiadas diante do milagre, tentando reconhecer que fomos nós mesmas que o tornamos possível, e nos reencontrando com o que é sublime. É uma experiência mística se nos permitirmos que assim seja.

Isto é tudo de que se necessita para poder amamentar um filho. Nem métodos, nem horários, nem conselhos, nem relógios, nem cursos. Apenas apoio, protecção e confiança em ser você mesma mais do que nunca. Apenas permissão para ser o que queremos, fazer o que queremos e deixar-nos levar pela loucura do selvagem.

Isto é possível quando se compreende que esse profundo vínculo com a mãe terra faz parte da psicologia feminina, que a união com a natureza é intrínseca ao ser essencial da mulher e que, quando este aspecto não se manifesta, simplesmente não flui. As mulheres não são muito diferentes dos rios, dos vulcões ou dos bosques. Só é necessário preservá-los dos ataques.

As mulheres que desejam amamentar têm o desafio de não se distanciar de forma desmedida dos seus instintos selvagens. Costumam raciocinar, ler livros de puericultura, e assim, entre tantos conselhos supostamente "profissionais", acabam perdendo o eixo. (...)

A maioria das mães que me consultam por dificuldades na lactação está preocupada em saber como fazer as coisas correctamente, em vez de procurar o silêncio interior, as raízes profundas, os vestígios de feminilidade e o apoio do homem, da família ou da comunidade que favoreçam o encontro com sua essência pessoal.

(...)

O mundo ocidental está cheio de "opinólogos" diplomados que sufocam a essência feminina e os seus esforços para se revelar por meio de um facto tão mágico e simples como é o do leite que jorra dos seios de uma mulher.

(...)

Amamentar os nossos bebés é ecológico no sentido mais amplo da palavra. É voltar a ser o que somos. É a nossa salvação. É um ponto de partida e de encontro com o seu eu. É despojarmo-nos de cultura e engasgarmos com a natureza. É levar as nossas crianças a penetrar um mundo de cores, ritmos, sangue e fogo e dançar com elas a dança da vida.
Para conseguir isso, é indispensável procurar protecção, estando sempre centradas na sabedoria poderosa e natural de nosso coração.