10 janeiro 2013

A doença como caminho - perturbações do período menstrual


O livro A Doença Como Caminho é da autoria de Thorwald  Dethlefsen e Rüdiger Dahlke. Encaram os vários tipos de doenças e incidentes a conteúdos psicológicos, justificando-o  através do conceito de "sombra". 

Fica um interessante excerto da sua abordagem às perturbações ocorridas durante o período menstrual:




O fluxo menstrual é expressão de feminilidade, fertilidade e receptividade. A mulher está sujeita ao seu ritmo. Ela tem de se moldar a ele e aceitar as limitações que lhe são impostas. Através do termo "moldar" afloramos um dos aspectos fundamentais da feminilidade: a abnegação. Ao falarmos de feminilidade, referimo--nos ao princípio geral do pólo feminino no mundo a que os Chineses, por exemplo, dão o nome de Yin, os alquimistas simbolizam por meio da Lua e a psicologia profunda exprime através do símbolo da água. Encarada por esta óptica, cada mulher é a manifestação do princípio feminino arquetípico. O princípio feminino pode definir-se pela sua receptividade. No I Ching podemos ler o seguinte: «O masculino rege o aspecto criativo, o feminino rege o aspecto receptivo.» E noutro lugar refere-se que «É na receptividade que reside a maior capacidade de entrega ao mundo».
Essa capacidade de entrega será, porventura, a característica essencial da mulher; ela constitui a base das restantes faculdades, como sejam a abertura, a receptividade, a absorção, o acolhimento. A capacidade de entrega exige ao mesmo tempo a renúncia à actuação activa. Se examinarmos os símbolos da feminilidade, a Lua e a água, veremos que uma e outra renunciam a irradiar e a emitir de forma activa as suas qualidades inerentes ao contrário do que fazem os seus pólos opostos, o Sol e o fogo. São, por isso, capazes de absorver, acumular e reflectir a luz e o calor. A água renuncia à pretensão de possuir forma própria -adopta qualquer forma. Molda-se e entrega-se totalmente.
A polaridade Sol/Lua, fogo/água, masculino/feminino, não tem implícita qualquer valoração. Toda e qualquer valoração seria improcedente uma vez que, por si só, cada pólo está incompleto para ficar completo precisa do outro pólo. Ora, esta qualidade íntegra apenas se consegue quando ambos os pólos representam plenamente a sua peculiaridade específica. Estas leis arquetípicas são frequentemente descuradas aquando de certas argumentações emancipadoras. Seria descabido que a água se queixasse de não poder arder ou brilhar e se sentisse por isso inferiorizada. É precisamente por não poder arder que ela pode receber, capacidade a que o fogo, por sua vez, tem de renunciar. Um não é melhor nem pior do que o outro, apenas diferente. É desta diferença entre os pólos que surge a tensão a que chamamos «vida». Não é possível eliminar a oposição nivelando os pólos. A mulher que aceite e viva plenamente a sua feminilidade jamais se sentirá «inferior».
Subjacente à maior parte das perturbações do ciclo menstrual e de muitos outros sintomas do foro sexual está a «não reconciliação» com a feminilidade própria. A entrega, e a adaptabilidade, são sempre tarefas difíceis para o Ser Humano, exigindo renúncia à vontade própria (ao eu quero) e ao predomínio do Ego. É necessário sacrificar algo do próprio Ego, uma parcela de si mesmo, e é isso que a menstruação exige da mulher. Com o seu sangue a mulher sacrifica uma parte da sua força vital. O período é uma pequena gravidez e um pequeno parto. Sempre que a mulher não se conforme com esse «período», ocorrerão doenças e perturbações do ciclo menstrual. Essas doenças e perturbações indicam, portanto, que uma parte da mulher (geralmente inconsciente) se rebela contra o período, contra o sexo ou contra o homem. É precisamente a esta rebelião - a este «eu não quero» - que se dirige toda a campanha publicitária dos pensos higiénicos. Prometem às mulheres que se utilizarem os produtos anunciados ficarão livres e poderão fazer tudo aquilo que desejam, até mesmo durante o período. A publicidade explora habilmente o conflito básico da mulher: ser mulher, sim, mas não aceitar aquilo que a condição feminina acarreta.
A mulher que sofre de dores menstruais vive a sua condição feminina dolorosamente. Os problemas menstruais revelam a existência de problemas sexuais, visto que a resistência à entrega que transpira da perturbação menstrual coíbe também a entrega na vida sexual. A mulher capaz de se descontrair no momento do orgasmo é também capaz de se descontrair na altura da menstruação. O orgasmo, tal como o sono, é uma pequena morte. Também a menstruação tem algo a ver com um pequeno processo de morte na medida em que alguns tecidos morrem e são expulsos do corpo. Morrer, no entanto, não é mais do que um convite a superar as limitações do Eu e as ânsias de domínio que lhe são próprias, e a deixar que as coisas sigam o seu curso. A morte apenas constitui ameaça para o Ego, nunca para o Ser Humano. A morte apenas constitui ameaça para o Ego, nunca para o Ser Humano em si. Aquele que se agarra ao Ego vive a morte como uma luta. Aquele que se agarra ao Ego vive a morte como uma luta. O orgasmo é, em certa medida, uma pequena morte porque exige um desprendimento do Eu. O orgasmo consiste na união do Eu e do Tu, o que pressupõe a abertura das fronteiras do Eu. Quem pretender aferrar-se ao Eu não poderá viver o orgasmo (conforme se verá mais adiante, o mesmo acontece quando se deseja dormir à força). A afinidade entre morte, orgasmo e menstruação deveria agora estar clara: reside na capacidade de entrega e na disponibilidade para sacrificar uma parte do Ego.
(...) É sabido que em condições de grande angústia e insegurança, aquando de catástrofes, do encarceramento em campos de trabalho ou de concentração, é frequente ocorrerem distúrbios na menstruação (amenorreia secundária). Isto, claro, porque tais situações, longe de fomentarem o tema da «entrega», induzem a mulher a adoptar atitudes masculinas de actividade e de auto-afirmação.
Há ainda um outro aspecto da menstruação que não deve ser descurado: o fluxo menstrual é expressão da faculdade de ter filhos. A menstruação produz reacções distintas consoante a mulher deseje, ou não, ter filhos. Se ela os deseja, a menstruação indica-lhe que «desta vez também não aconteceu» e nesse caso ela estará sujeita a incómodos e a acessos de mau humor antes e durante o período. Ela registará a menstruação como algo de «doloroso». Apesar do desejo de virem a ter filhos, estas mulheres recorrem a métodos anticoncepcionais, ainda que pouco fiáveis - é o compromisso entre a ânsia inconsciente da maternidade e o desejo de procurar um álibi. Se, ao invés, a mulher tiver medo de engravidar, aguardará com ansiedade a chegada do período que é o método que melhor lhe pode facultar um protelamento. Nesses casos o fluxo costuma ser abundante e prolongado, circunstância que pode também ser utilizada para evitar o contacto sexual. No fundo, o período, como qualquer outro sintoma, pode ser utilizado como um instrumento, seja para se esquivar ao acto sexual, seja para chamar a atenção sobre si.
A menstruação é determinada fisicamente pela inter-relação das hormonas femininas (estrogénios) e das hormonas masculinas (testerona). Essa inter-relação corresponde a uma «sexualidade à escala hormonal». Se essa «sexualidade hormonal» for afectada, o período também resultará afectado. Esse tipo de anomalia dificilmente pode ser curada mediante a administração de hormonas medicamentosas uma vez que as hormonas são, em última instância, representativas das partes masculina e feminina da alma. A cura apenas se poderá achar na reconciliação com a própria condição sexual visto ser esse o requisito essencial para se poder realizar em si próprio o pólo do sexo oposto.


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