O livro A Doença Como
Caminho é da autoria de Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke. Encaram os vários tipos de doenças e incidentes a conteúdos psicológicos, justificando-o através do conceito de "sombra".
Fica um interessante excerto da sua abordagem às perturbações ocorridas durante o período menstrual:
O
fluxo menstrual é expressão de feminilidade, fertilidade e
receptividade. A mulher está sujeita ao seu ritmo. Ela tem de se
moldar a ele e aceitar as limitações que lhe são impostas. Através
do termo "moldar" afloramos um dos aspectos fundamentais da
feminilidade: a abnegação. Ao
falarmos de feminilidade, referimo--nos ao princípio geral do pólo
feminino no mundo a que os Chineses,
por exemplo, dão o nome de Yin, os alquimistas simbolizam por
meio da Lua e a
psicologia profunda exprime através do símbolo da água. Encarada
por esta óptica, cada mulher é a manifestação do princípio
feminino arquetípico. O princípio feminino pode
definir-se pela sua receptividade. No
I Ching podemos
ler o seguinte: «O masculino rege o aspecto criativo, o feminino
rege o aspecto receptivo.» E noutro lugar refere-se que «É na
receptividade que reside a maior capacidade de entrega ao mundo».
Essa
capacidade de entrega será, porventura, a característica essencial
da mulher; ela constitui a base das restantes faculdades, como sejam
a abertura, a receptividade, a absorção, o acolhimento. A
capacidade de entrega exige ao mesmo tempo a renúncia à actuação
activa. Se examinarmos os símbolos da feminilidade, a Lua e a água,
veremos que uma e outra renunciam a irradiar e a emitir de forma
activa as suas qualidades inerentes ao contrário do que fazem os
seus pólos opostos, o Sol e o fogo. São, por isso, capazes de
absorver, acumular e reflectir a luz e o calor. A água renuncia à
pretensão de possuir forma própria -adopta qualquer forma. Molda-se
e entrega-se totalmente.
A
polaridade Sol/Lua, fogo/água, masculino/feminino, não tem
implícita qualquer valoração. Toda e qualquer valoração seria
improcedente uma vez que, por si só, cada pólo está incompleto
para ficar completo precisa do outro pólo. Ora, esta qualidade
íntegra apenas se consegue quando ambos os pólos representam
plenamente a sua peculiaridade específica. Estas leis arquetípicas
são frequentemente descuradas aquando de certas argumentações
emancipadoras. Seria descabido que a água se queixasse de não poder
arder ou brilhar e se sentisse por isso inferiorizada. É
precisamente por não poder arder que ela pode receber, capacidade a
que o fogo, por sua vez, tem de renunciar. Um não é melhor nem pior
do que o outro, apenas diferente. É desta diferença entre os pólos
que surge a tensão a que chamamos «vida». Não é possível
eliminar a oposição nivelando os pólos. A mulher que aceite e viva
plenamente a sua feminilidade jamais se sentirá «inferior».
Subjacente
à maior parte das perturbações do ciclo menstrual e de muitos
outros sintomas do foro sexual está a «não reconciliação» com a
feminilidade própria. A entrega, e a adaptabilidade, são sempre
tarefas difíceis para o Ser Humano, exigindo renúncia à vontade
própria (ao eu quero) e ao predomínio do Ego. É necessário
sacrificar algo do próprio Ego, uma parcela de si mesmo, e é isso
que a menstruação exige da mulher. Com o seu sangue a mulher
sacrifica uma parte da sua força vital. O período é uma pequena
gravidez e um pequeno parto. Sempre que a mulher não se conforme com
esse «período», ocorrerão doenças e perturbações do ciclo
menstrual. Essas doenças e perturbações indicam, portanto, que uma
parte da mulher (geralmente inconsciente) se rebela contra o período,
contra o sexo ou contra o homem. É precisamente a esta rebelião - a
este «eu não quero» - que se dirige toda a campanha publicitária
dos pensos higiénicos. Prometem às mulheres que se utilizarem os
produtos anunciados ficarão livres e poderão fazer tudo aquilo que
desejam, até mesmo durante o período. A publicidade explora
habilmente o conflito básico da mulher: ser mulher, sim, mas não
aceitar aquilo que a condição feminina acarreta.
A
mulher que sofre de dores menstruais vive a sua condição feminina
dolorosamente. Os problemas menstruais revelam a existência de
problemas sexuais, visto que a resistência à entrega que transpira
da perturbação menstrual coíbe também a entrega na vida sexual. A
mulher capaz de se descontrair no momento do orgasmo é também capaz
de se descontrair na altura da menstruação. O orgasmo, tal como o
sono, é uma pequena morte. Também a menstruação tem algo a ver
com um pequeno processo de morte na medida em que alguns tecidos
morrem e são expulsos do corpo. Morrer, no entanto, não é mais do
que um convite a superar as limitações do Eu e as ânsias de
domínio que lhe são próprias, e a deixar que as coisas sigam o seu
curso. A morte apenas constitui ameaça para o Ego, nunca para o Ser
Humano. A
morte apenas
constitui ameaça para o Ego, nunca para o Ser Humano em
si. Aquele que se agarra ao Ego vive a morte como uma luta. Aquele
que se agarra ao Ego vive a morte como uma luta. O orgasmo é, em
certa medida, uma pequena morte porque exige um desprendimento do Eu.
O orgasmo consiste na união do Eu e do Tu, o que pressupõe a
abertura das fronteiras do Eu. Quem pretender aferrar-se ao Eu não
poderá viver o orgasmo (conforme se verá mais adiante, o mesmo
acontece quando se deseja dormir à força). A afinidade entre morte,
orgasmo e menstruação deveria agora estar clara: reside na
capacidade de entrega e na disponibilidade para sacrificar uma parte
do Ego.
(...)
É sabido que em condições de grande angústia e insegurança,
aquando de catástrofes, do encarceramento em campos de trabalho ou
de concentração, é frequente ocorrerem distúrbios na menstruação
(amenorreia secundária). Isto, claro, porque tais situações, longe
de fomentarem o tema da «entrega», induzem a mulher a adoptar
atitudes masculinas de actividade e de auto-afirmação.
Há
ainda um outro aspecto da menstruação que não deve ser descurado:
o fluxo menstrual é expressão da faculdade de ter filhos. A
menstruação produz reacções distintas consoante a mulher deseje,
ou não, ter filhos. Se ela os deseja, a menstruação indica-lhe que
«desta vez também não aconteceu» e nesse caso ela estará sujeita
a incómodos e a acessos de mau humor antes e durante o período. Ela
registará a menstruação como algo de «doloroso». Apesar do
desejo de virem a ter filhos, estas mulheres recorrem a métodos
anticoncepcionais, ainda que pouco fiáveis - é o compromisso entre
a ânsia inconsciente da maternidade e o desejo de procurar um álibi.
Se, ao invés, a mulher tiver medo de engravidar, aguardará com
ansiedade a chegada do período que é o método que melhor lhe pode
facultar um protelamento. Nesses casos o fluxo costuma ser abundante
e prolongado, circunstância que pode também ser utilizada para
evitar o contacto sexual. No fundo, o período, como qualquer outro
sintoma, pode ser utilizado como um instrumento, seja para se
esquivar ao acto sexual, seja para chamar a atenção sobre si.
A
menstruação é determinada fisicamente pela inter-relação das
hormonas femininas (estrogénios) e das hormonas masculinas
(testerona). Essa inter-relação corresponde a uma «sexualidade à
escala hormonal». Se essa «sexualidade hormonal» for afectada, o
período também resultará afectado. Esse tipo de anomalia
dificilmente pode ser curada mediante a administração de hormonas
medicamentosas uma vez que as hormonas são, em última instância,
representativas das partes masculina e feminina da alma. A cura
apenas se poderá achar na reconciliação com a própria condição
sexual visto ser esse o requisito essencial para se poder realizar em
si próprio o pólo do sexo oposto.
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