26 abril 2012

Gestação, parto e Antroposofia


Dra. Natália Zekhry 
Médica Ginecologista-Obstetra 







O nascimento de uma criança, além de ser um momento mágico para a família, é um acontecimento de grande significado espiritual.




A gravidez é um processo sui generis no desenvolvimento individual não apenas da mulher que se tornará mãe, mas de toda a família.
Do ponto de vista da Medicina Antroposófica, a concepção ocorre quando um ser, no mundo espiritual, vislumbra a possibilidade de vir ao mundo, em determinado ambiente familiar e social, para realizar seus objetivos.

Algumas mães sonham com um bebê antes mesmo da concepção e isso é indício de que aquele ser espiritual de alguma forma começa a se integrar ao seu novo ambiente.

Podemos perceber a gestação como tendo três fases. Na primeira, podem surgir enjôos e mal-estar. Por carregar em seu interior um ser cósmico, existe o afastamento do mundo material, ocasionando eventos como pressão baixa, falta de concentração e sono excessivo. Essa fase é muito íntima para o casal. Na segunda fase, os sintomas normalmente já melhoraram, e a barriga começa a aparecer. É uma fase considerada muito tranqüila. Na terceira, a gravidade se torna uma das questões físicas principais e a proximidade do parto é a outra questão central.

A equipe que atua durante a gestação, o parto e os cuidados com o recém-nascido deve apresentar uma atitude interna de muita calma, profundo respeito e comprometimento com esse ser em processo de encarnação, assim como com os pais, que também estão vivenciando um nascimento.

A segurança da mãe deve basear-se na confiança, intuição e percepção das necessidades de sua família. Ser mãe é ter coragem, e a mulher que vivencia com consciência a chegada de seu filho tem a chance de desenvolver essa coragem. Coragem de esperar o início do trabalho de parto, de experimentar a próxima contração, de ajudar o filho a nascer, crescer, desenvolver-se e partir, como ser livre e pleno, em busca de suas próprias experiências.

Existe um motivo importante para permitir o desencadeamento espontâneo do trabalho de parto: o bebê participa dele ativa e fisiologicamente, liberando substâncias que o ajudam na adaptação ao seu futuro meio ambiente após o nascimento: o meio aéreo.

No trabalho de parto, a gestante pode experimentar as posições que desejar e pode praticar respiração com expiração prolongada, para aliviar as dores, que também melhoram com banho em banheira, com óleo de lavanda ou de arnica com bétula. O marido deve ser estimulado a massageá-la. É uma forma de ele sentir que também está “dando à luz”.

Água e alimentos leves, como chá com torradas, picolé e água de coco, podem ser ingeridos durante o trabalho de parto. A anestesia pode ser usada se houver solicitação ou esforço além do suportável. O parto é um evento cultural humano no qual se insere um ato biológico; assim a dor tanto pode ser útil, como pode ser prejudicial.
Segundo Rudolf Steiner, que fundou a Antroposofia, quando a mãe suporta conscientemente as dores do parto, ela ajuda a criança a cumprir seu desenvolvimento. Mas isso pode ser prejudicial, uma vez que desconecta a mãe do processo do nascimento, e é preciso individualizar cada situação.

É importante diferenciar dor como sensação física de dor como sofrimento, um sentimento imbuído de emoção. A sensação física da dor pode ser acompanhada de alegria ou de sofrimento. Nesse sentido, um grito pode ocorrer como um instrumento de conquista, cheio de excitação: “meu grito, minha luta, minha conquista”. Mas pode ser um pedido de socorro: “não estou agüentando, me ajudem”. 

Na hora do nascimento, é interessante que o marido receba a criança junto com o obstetra para entregá-la à mãe, ainda com o cordão umbilical. Poderá colocá-la em seu peito, previamente limpo com água morna.

O tato é um dos sentidos mais importantes para o recém-nascido, uma vez que sua visão ainda é turva, seus ouvidos não conseguem filtrar sons, suas narinas ainda estão molhadas e cheias de secreção. Esse é um momento de absoluta comunhão com o bebê que está nascendo. Deve reinar um silêncio religioso, somente interrompido pelo choro do bebê. Um choro suave e delicado nos mostra que o trauma do nascimento foi amenizado. Um recém-nascido não tem filtros sensoriais e por isso devemos devemos evitar luz forte – inclusive do flash fotográfico. Também se deve ter pouco ruído, pois os sons mais familiares ao bebê são as vozes materna e paterna.

A mãe deve receber e ficar com seu bebê quanto desejar. O pai pode cortar o cordão umbilical. Esse ato simboliza que nessa relação mamãe-bebê existe um terceiro ser: o pai. Durante todo o aleitamento, ele pode participar dos banhos do bebê e em geral o faz por instinto.

O bebê pode ter sua primeira mamada logo ao nascimento. Bebês que sugam a mama nos primeiros 30 minutos do nascimento apresentam reflexo de sucção mais ativo.

Podem-se usar métodos naturais de estímulo à recuperação e vitalização da mãe, ajudando na regressão do útero, e para efeitos antiinflamatório e analgésico. As gestantes que vivem conscientemente esse processo assumem com mais segurança suas novas tarefas. Nos dias subseqüentes, a mãe deve receber apoio para cuidar do bebê, a fim de dispor de períodos de descanso e preferencialmente não acumular outras tarefas além desses cuidados.

Atualmente o vir a ser pai e mãe exige um esforço consciente e estes devem se conectar novamente com suas intuições, atuando através da confiança e estando ao lado de seus filhos para permitir-lhes um desenvolvimento saudável e feliz. 





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