SOL
Divindade
envolta num profundo mistério relacionado com os fenómenos vitais.
Símbolo da libertação da opressão invernal que submerge, os
países setentrionais e circumpolares, num longo e escuro período de
esterilidade. É o pêndulo do relógio que marca as horas do
princípio e do fim das estações do ano.
No seu
curso crescente, iniciado logo após a noite mais longa do Solstício
de Inverno, o Sol vai abrindo brechas na penumbra até à sua
consagração no Solstício de Verão. Vários povos representam esta
viagem, de vida, morte e renascimento, em expressivas espirais
solares crescendo a partir do estado de recolhimento, expandindo no
zénite estival e inflectindo, ao ponto original, imitando o minguar
do Sol com a aproximação do inverno.
Os
ciclos naturais, celebrados desde tempos imemoriais, expressam uma
matemática simbólica ao assinalarem a alternância das núpcias
cósmicas entre a bênção do céu e a generosidade da
terra.
O
Calor do Sol assemelha-se ao Calor Ígneo: ambos inacessíveis e
incomportáveis, ambos imprescindíveis à sobrevivência. O fogo
purifica e transforma. O Sol injecta nos solos o pulsar criador.
LITHA
Solstício
de Verão:
Regresso
do esplendor aos céus e da vida ao ventre da Mãe-Terra.
(...)
Festa
SOLAR
Celebração
elementar do FOGO.
O Deus
Sol no auge...
As
flores, as árvores, o verde em todo o esplendor...
Cernunos,
o Deus Cornudo, em toda a plenitude, maduro e feliz.
A
Deusa, fecundada no Beltane (01 de Maio) está grávida e assume os
atributos de Deusa Mãe.
No dia
mais longo do ano a luz prevalece sobre a escuridão garantindo poder
e protecção. Celebra-se a abundância. Celebra-se a Vida
Outras
denominações existem para este festival:
·“CoamHain - Midsummer” (“meio
do verão” iniciado a 1 de Maio com as festividades do Beltane)
·“Alban
Heffin” (designação druídica) “Luz da Costa” ou “Luz
do Verão”, fazendo alusão ao triunfo da luz sobre as trevas.
Sob o
efeito excitante do Verão, a alegria apodera-se das gentes. As
consciências descontraem-se, num estado de alucinação sensorial e
sensual.
É no
estio que os dias adquirem especial poder, descrito por Rudolph
Steiner como o “phosphoro alquímico, invisível da
atmosfera”, através do qual “entidades oriundas dos
mundos estelares entram no nosso organismo etéreo, tornando-o
permeável a forças cósmicas necessárias à celebração da
metamorfose da alma”.
Todavia
é também hoje que o pico de luz entra em declínio culminando
no Samhain, Halloween ou Alban Arthan recordando
ao homem o quão transitória é a existência.
Lendas,
rituais, sítios e tradições seculares associam-se ao Solstício de
Verão, testemunhando a sua relevância cerimonial:
·Monumentos
megalíticos alinhados, nos solstícios, com o nascer e o pôr do
Sol...
·Colheita,
partilha e secagem de ervas medicinais e aromáticas que, pela
conjuntura astral, estão agora nutridas do máximo poder curativo,
alquímico e mágico do SOL...
·Banhos
purificadores e curas milagrosas ocorridas em rios, fontes e
cascatas...
·É
nesta noite a seiva das árvores está vivaz. Escolhem-se os ramos
para as varas de condão, usadas pelos celtas em círculos
cerimoniais e rituais de cura enquanto canalizadores de energia.
·O
sonhado, desejado ou pedido na noite de Litha realizar-se-á...
.Esta
noite que Puck, Pan, Elfos, Fadas, Duendes e Gnomos correm pelos
campos e florestas sendo facilmente avistados e contactados...
·Os
Druidas veneram Ogham – Duir, o Carvalho.
Árvore nobre, símbolo de força, sabedoria e iluminação, pelo
crescimento lento, como lenta é a maturação do espirito. A elevada
densidade da sua madeira corresponde à solidez espiritual adquirida
ao longo do caminho. O Carvalho está também associado à iluminação
devido ao especial tropismo dos relâmpagos por esta árvore.
·Rituais
de Fogo e Água remontam a ancestrais tradições pagãs, egípcias,
gregas, celtas e bárbaras: Rituais de fogo representando o poder
fecundador encarnado no Deus Cornudo; Rituais de água representando
a fertilidade de Deusa e simbolizados pelo caldeirão de Ceridwen.
Ânima
Lusa
Encontramos
hoje os ecos cristianizados de antigas tradições pagãs nas
celebrações do advento do verão, do Solstício e nas que decorrem
ao longo de todo o estio.
Alguns
autores afirmam que a tradição dos ritos solares foi trazida para a
Península Ibérica pelos árabes (acender fogueiras ainda é uma
prática comum em Marrocos e na Argélia). Todavia, nas nossas festas
e romarias é, também, evidente a influência celta, visigótica e
xamânica.
Hoje,
em Portugal, inicia-se um ciclo de dias longos e noites curtas,
plenas de eflorescência azulada mimetizando uma extensão dos dias.
Estas noites luminosas são realçadas pelas fogueiras e os
balões iluminados das festas populares que por estas paragens honram
Santo António, São João Baptista e São Pedro, numa espécie de
celebração da tríplice, solar e masculina.
Em
Junho e Julho, abarcando todo o período do signo de Caranguejo,
Portugal está cheio de festividades que pontuam pela cor, luz,
alegria e sedução amorosa.
Manjerico,
alecrim, funcho, tomilho, verbena, alho-porro, camomila, girassol...
Ervas aromáticas, curativas, mágicas, alusivas ao Sol, ervas que
nos inspiram e embriagam o espírito.
Igrejas,
altares, janelas, ruas e gentes vestem-se de branco, azul, verde,
amarelo, laranja e vermelho.
O fogo
é vivificado, numa reverência dionisíaca ao FOGO SOLAR iluminando
o céu e a terra:
Pelas
fogueiras que, se saltam para espantar o infortúnio e a
negatividade, feitas na rua e à porta de casa, purificam e abençoam
quem à sua volta dança e histórias conta;
Pelos
balões coloridos e iluminados que, pendurados em arcos ou lançados
ao céu, simbolizam estrelas cadentes na escuridão nocturna.
Estes
são ritos propiciatórios do Fogo, que até ao Equinócio de Outono,
ganha força sob a forma de calor, compensando o progressivo declínio
da luz.
Mas a
Tradição Mágica Lusitana não se fica pelo FOGO e o Masculino,
reverencia também a ÁGUA e o Feminino:
Água
da meia-noite, a “água nova” renovadora e mágica e a Água da
Alvorada. E por isso se dança até ao romper da aurora, para que o
Orvalho nos banhe e assim celebremos um novo ciclo anual.
A
sardinha, prateada e vivaz, simboliza as águas correntes e a Lua.
Abundantemente consumida nas festas de verão equilibra o Sol, a ele
se une e fortifica o Homem balanceando a dualidade sexual. E... é
esta união cósmica e ritual do Sol e da Lua que inspira a tradição
casamenteira da quadra.
O
casamento romântico dos enamorados e o casamento com Fadas ou Mouras
Encantadas simbolizando o tradicional ritual de passagem. Mouras
Encantadas que protagonizam inúmeras lendas do cancioneiro popular
Análogas de Artemisa, de Östara, Deusa Regeneradora dos Visigodos,
e da Serpente Guardiã da lenda nórdica de Thora.
Durante
o resto do ano as Mouras Encantadas estão adormecidas ou
transformadas em serpentes. No Equinócio da Primavera e no Solstício
de Verão aparecem em penedos remotos, bosques densos, fontes e
ribeiras, como belas donzelas, virgens de longos cabelos dourados e
de branco vestidas.
Possuindo
dons curativos e poderes mágicos que apaziguam as almas, fazem
nascentes brotar e ouro gerar, as “Senhoras Brancas”, vão
propondo casamento aos passantes e premeiam, com felicidade e
prosperidade, o corajoso jovem que se aventure as desposá-las
libertando-as do encantamento. Esta valência feminina, mágica e
sagrada na tradição nacional é tão importante que, esta quadra
solsticial, inaugura uma série de festividades alusivas a “Nossa
Senhora”, que se prolongam por todo verão e se celebram em
santuários arborizados e luxuriantes, localizados frequentemente em
montes e sítios ermos, de difícil acesso.
Portugal
transporta um passado ancestral e mítico de união com a Natureza
sendo disso testemunha o nosso folclore que remanesce como um
reservatório de cultos e tradições que, embora esmaecidos por
imposições dogmáticas, vão permanecendo nas romarias e festas
sazonais.
EPÍLOGO
Aos
Solstícios não ficam alheias as nossas consciências colectiva e
individual. São ancestrais os festivais solares, enquanto
representações da fusão dos Espíritos Superior do Sol, do Deus
Cornudo e do Homem. Já os gregos chamavam “Apolo de Chifres” ao
“Espírito Invisível do Sol” espelhando aquela interpenetração.
Reflectindo
os ciclos sazonais, de fertilidade e esterilidade, e estimulando as
forças sobrenaturais da personalidade, a Celebração Solar desperta
a nossa consciência atávica pois não só objectiva a sintonia com
a Natureza, mas também a Experiência Mística que profetiza, na
metamorfose da Terra, a potencialidade para a transformação do
Homem
“Onde
o Deus e a Deusa se Unem
Em
Perpétuo Amor e Fecundidade
Nasce
a Fertilidade e a Sabedoria"
Fonte