Ostara - Jaine Rose |
(...)
Já vos apercebestes de que por toda a parte, à nossa volta, está
para se produzir um acontecimento que se chama "Primavera"...
Ah! Já vos destes conta... É magnífico! Sente-se que tudo mexe, é
uma nova vaga que brota do Cosmos e daqui a muito pouco tempo, sobre
toda a Terra, as flores, as árvores, os pássaros... que adornos!
Eis um dos mais extraordinários fenómenos da vida: a Primavera.
Em
cada ano, tudo se renova... Sim, tudo, excepto os humanos! Esses
ficam tais como são, não se põem em sintonia com esta renovação.
Eles sentem bem que se passa qualquer coisa no ar, mas não se deixam
influenciar. É preciso que aprendam a abrir as suas portas e janelas
para que esta vida possa penetrar neles e impregná-los. (...) Porque
é pena que esta renovação se produza só na Natureza, e que os
humanos, demasiado concentrados sobre coisas velhas, quase não dêem
por ela. É preciso estar livre, desapegado, e receber de braços
abertos esta vida nova. (...) Esta voz que se faz ouvir e diz a todos
os gérmens, a todas as sementes: "Vamos, despertai, crescei
agora!" é de uma potência espantosa, mas a maior parte das
pessoas estão surdas para ela, e continuam na mesma, entorpecidas,
estagnadas.
Para
um Iniciado, este período do equinócio da Primavera é muito
importante. Ele sabe utilizá-lo para fazer todo um trabalho de
purificação, de regeneração. Sim, não basta notar que os
pássaros cantam, que as flores crescem e que as pessoas estão um
pouco mais alegres. Há todo um trabalho a fazer, um trabalho de
renovação. Deixai todos os outros assuntos de lado, tudo o que já
está velho e caduco, e concentrai-vos unicamente na nova vida para
poderdes entrar em comunicação com a enorme corrente que brota do
coração do Universo.
Sim,
alegrai-vos, a Primavera está aí, cantai, dançai! Dirão alguns:
"Para nós, acabou-se... a Primavera é para os jovens."
Aqueles que raciocinam assim separam-se da vida. Todos devem caminhar
em sintonia com a renovação, porque não há aqui distinção a
fazer entre jovens e velhos. Já ouvistes alguma vez árvores velhas
dizerem: "Bom, sabe, nós já passámos a idade de florir e de
reverdecer, deixamos isso agora às jovens?" Não, também elas,
na Primavera, se cobrem de flores e de folhas. Por conseguinte, mesmo
as velhas avós, mesmos os velhos avôs, devem entrar na roda,
saltitar, pular, dançar e tudo lhes correrá melhor.
Como é
possível não se ver que toda a Natureza pensa e nós? Em cada ano,
pela Primavera, ela envia-nos todas as energias e estimulantes de que
temos necessidade para o resto do ano, e cabe-nos a nós não os
deixar passar sem guardar nada.
Já
recebestes muito esta manhã ao nascer-do-sol. (...) Reparai ao menos
no trabalho que ele faz sobre todas as sementezinhas que estavam
adormecidas! Ele disse-lhes: "Mas do que é que estais à
espera? Agora, é preciso dar qualquer coisa. Vamos, ála! Ao
trabalho! - Mas nós somos pequenas, somos fracas... - Não, não,
experimentai e vereis, eu vou ajudar-vos." E, então, todas
essas sementes tomam coragem. Todos os dias o Sol as aquece, as
acaricia, lhes fala, e, após algum tempo, aparecem flores magníficas
ao pé das quais os poetas, os pintores, os músicos, vêm
encantar-se e inspirar-se. Porque é que não há-de acontecer a
mesma coisa connosco?
Nós
somos sementes plantadas algures no solo espiritual (...).
É
isto, pois, a renovação, a regeneração que se aproxima, e é este
processo que nos interessa; tudo o resto deve ser posto de parte.
Este período do equinócio da Primavera é um dos mais importantes
do ano.
Fonte:
AIVANHOV, M.: O Natal e a Páscoa na tradição iniciática, Edições Prosveta, 1982, pp.77-80