20 março 2013

Equinócio da Primavera






Ancestralmente, certos povos pré-históricos efectuavam diversos rituais, por altura do equinócio da primavera, tendo como propósito nas suas preces o desejo de um ano novo, do renovar da esperança e sobretudo do desejo de abundância e fertilidade.
Alguns destes costumes pagãos, apesar de aculturados, chegaram até nós com os mesmos propósitos de então. No Alentejo existe um ritual, em S. Pedro do Corval, onde as mulheres atiravam, e ainda atiram, calhaus rolados (supostamente ovos) para o topo de um menir, denominado “Rocha dos Namorados”, de configuração erecta (figura do órgão masculino), cravado na terra (símbolo da deusa mãe) procurando assim a fertilidade e a fecundidade desejadas. Segundo a tradição, ainda presente, as raparigas solteiras vão à “rocha dos namorados”, na segunda-feira de Páscoa, lançar uma pedra para cima do menir procurando resposta sobrenatural em matéria do seu enlace: cada lançamento falhado representa mais um ano de espera do seu casamento.

Numa leitura mais atenta aos monumentos megalíticos circundantes, encontramos o Alinhamento ou Cromeleque dos Almendres (estas construções, únicas na Europa ocidental, estendem-se desde Inglaterra até Portugal), um recinto alongado, com cerca de uma centena de menires, na sua maioria de forma ovóide, que constituiu, por certo, além de uma construção de carácter multifuncional capaz de organizar e estruturar a sociedade envolvente, uma estrutura de carácter religioso envolvendo, supostamente, rituais propiciatórios de fecundidade. Um dos menires, situado na extremidade norte, exibe três imagens solares radiadas. Tal iconografia corresponde, provavelmente, ao momento final do Neolítico, quando na região se fizeram sentir as primeiras influências culturais das primeiras comunidades da idade dos metais, portadoras de uma nova estrutura religiosa. Esta religiosidade centrada numa divindade feminina, idealizada com grandes olhos solares, assumira-se como a grande “deusa ibérica”. Certamente que estas manifestações na Europa ocidental, feitas através de cerimónias de carácter sexual, com libações e outras ofertas corporais, não são alheias a um dos mais importantes rituais em honra de Ishtar, deusa da fertilidade, deusa dos arcádios. Esta divindade, Ishtar, não é mais do que a representação da deusa Inanna, herança dos seus antecessores povos sumérios; cognata da deusa Asterote dos filisteus; da deusa Isis dos egípcios; e da deusa Astarte dos Gregos. Mais tarde esta deusa, Ishtar, foi assumida também na mitologia Nórdica como Easter (Páscoa em Inglês), a deusa da fertilidade e da primavera.
No equinócio da primavera, os participantes em honra da deusa da fertilidade Easter pintavam e decoravam ovos escondendo-os em tocas nos campos, na sequência de anteriores práticas já exercitadas pelos Persas, Romanos, Judeus eArménios.

No século XVI, Cesare Ripa, no seu tratado de iconologia, descreve a “Fecundidade” como uma “mulher coroada com folhas de zimbro que com as mãos aperta contra os seus seios um ninho de pintassilgos com os seus filhotes. Segundo Plínio, lib. X, cap. LXIII, o pintassilgo é um dos mais pequenos mas dos mais profícuos animais, pondo de cada vez doze ovos.
A seus pés, uma galinha com os pintos recém-nascidos, saindo de cada ovo. Do outro lado, uma lebre rodeada pelas crias.
O zimbro é a planta que possui sementes capazes de alimentar os animais. Os pintassilgos representam as crias, os filhos; as galinhas, os ovos e os coelhos anunciam a fertilidade, que é a maior bênção que uma mulher pode ter no casamento”.
Toda esta imagem iconográfica (Mulher coroada com zimbro, acompanhada de Ovos, Pintassilgos, coelhos, galinhas) evidencia a aspiração ancestral do ser humano: o anseio de abastança, o desejo de fertilidade e de fecundidade.
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Fonte:



Os equinócios são portais cuja travessia nos permite ascender a um estado de consciência mais elevado e a um mais profundo conhecimento de nós próprios. Pedem-nos que deixemos partir tudo o que já não nos serve, abrindo assim espaço para o novo, que podemos então acolher de todo o coração.
   
Os equinócios (de aequus, ou igual, e nox, ou noite) são, como o nome indica, períodos nos quais a noite dura o mesmo tempo que o dia, ou seja, 12 horas. O equinócio é, a todos os títulos, um momento excepcional no ano, quando o Sol, centro do nosso sistema e sustento de toda a vida no planeta, determina o equilíbrio perfeito dos pratos da balança cósmica. Pelo menos por um instante, o instante equinocial, todas as possibilidades estão suspensas na mais instável e delicada das harmonias.

(...)A partir deste momento, a luz ganha a batalha contra a escuridão invernal, e toda a Terra celebra a morte do ano velho e a entrada num novo ano – embora por vezes, afirmam alguns, esta vitória da Luz não se faça sem grandes perigos e agitação, associando-se os momentos equinociais ao recrudescimento de guerras, sublevações e catástrofes naturais. Afinal, dificilmente se abandona um sistema por outro sem algum sofrimento e resistência.
Esta é a época em que, conforme as nossas crenças e inclinações naturais, festejamos a morte e ressurreição de Jesus, filho e fruto de Maria, ou então o regresso de Perséfone, a Donzela, do mundo subterrâneo, também ela símbolo da alma renascida após uma descida às profundezas da materialidade. Este é o momento de triunfo da Aurora, da Estrela da Manhã, de Astarte, Ísis, Afrodite, Deméter e Maria, quando a Natureza carregada com as suas primícias se revela num festival de abundância, sabores, cores e perfumes sem par. Este é o tempo da Deusa fértil, dando à luz os rebentos infinitamente variados de toda a Criação, e é também o tempo dos seus filhos sagrados, sejam Cristo, Adónis, Osíris ou Dionísio, em cada ano mortos como a vegetação mas destinados a renascer em cada Primavera.

Nesta altura do ano temos a oportunidade, mas também o dever, de fazer uma verdadeira Limpeza da Primavera nas nossas vidas. Planear uma limpeza ou organização da casa, ou de algum aspecto do nosso quotidiano, pode ser uma boa maneira de dar início ao processo. A energia equinocial apoia-nos neste momento, quando despertamos da letargia invernal ávidos de luz, de ar puro e de beleza. Trata-se de deixar entrar essa luz e ar e de criar essa beleza também em nós e no mundo que nos rodeia, pelo qual somos responsáveis, e que, sendo um Cosmos em miniatura, é símbolo do Universo inteiro. Sejamos nós também Criadores, parceiros da Natureza, e exultantes com a nossa própria Criação, por mais modesta que pareça.
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