Ancestralmente,
certos povos pré-históricos efectuavam diversos rituais, por altura
do equinócio da primavera, tendo como propósito nas suas preces o
desejo de um ano novo, do renovar da esperança e sobretudo do desejo
de abundância e fertilidade.
Alguns destes costumes pagãos, apesar de aculturados, chegaram até
nós com os mesmos propósitos de então. No Alentejo existe um
ritual, em S. Pedro do Corval, onde as mulheres atiravam, e ainda
atiram, calhaus rolados (supostamente ovos) para o topo de um menir,
denominado “Rocha dos Namorados”, de configuração erecta
(figura do órgão masculino), cravado na terra (símbolo da deusa
mãe) procurando assim a fertilidade e a fecundidade
desejadas. Segundo a tradição, ainda presente, as raparigas
solteiras vão à “rocha dos namorados”, na segunda-feira de
Páscoa, lançar uma pedra para cima do menir procurando resposta
sobrenatural em matéria do seu enlace: cada lançamento falhado
representa mais um ano de espera do seu casamento.
Numa
leitura mais atenta aos monumentos megalíticos circundantes,
encontramos o Alinhamento ou Cromeleque dos Almendres (estas
construções, únicas na Europa ocidental, estendem-se desde
Inglaterra até Portugal), um recinto alongado, com cerca de uma
centena de menires, na sua maioria de forma ovóide, que constituiu,
por certo, além de uma construção de carácter multifuncional
capaz de organizar e estruturar a sociedade envolvente, uma estrutura
de carácter religioso envolvendo, supostamente, rituais
propiciatórios de fecundidade. Um dos menires, situado na
extremidade norte, exibe três imagens solares radiadas. Tal
iconografia corresponde, provavelmente, ao momento final do
Neolítico, quando na região se fizeram sentir as primeiras
influências culturais das primeiras comunidades da idade dos metais,
portadoras de uma nova estrutura religiosa. Esta religiosidade
centrada numa divindade feminina, idealizada com grandes olhos
solares, assumira-se como a grande “deusa ibérica”. Certamente
que estas manifestações na Europa ocidental, feitas através
de cerimónias de carácter sexual, com libações e outras ofertas
corporais, não são alheias a um dos mais importantes rituais
em honra de Ishtar, deusa da fertilidade, deusa dos arcádios.
Esta divindade, Ishtar, não é mais do que a representação
da deusa Inanna, herança dos seus antecessores povos sumérios;
cognata da deusa Asterote dos filisteus; da
deusa Isis dos egípcios; e da
deusa Astarte dos Gregos. Mais tarde esta
deusa, Ishtar, foi assumida também na mitologia
Nórdica como Easter (Páscoa em Inglês), a deusa da
fertilidade e da primavera.
No
equinócio da primavera, os participantes em honra da deusa da
fertilidade Easter pintavam e decoravam ovos escondendo-os
em tocas nos campos, na sequência de anteriores práticas já
exercitadas pelos Persas, Romanos, Judeus eArménios.
No
século XVI, Cesare Ripa, no seu tratado de iconologia, descreve a
“Fecundidade” como uma “mulher coroada com folhas
de zimbro que com as mãos aperta contra os seus seios um ninho de
pintassilgos com os seus filhotes. Segundo Plínio, lib. X, cap. LXIII, o
pintassilgo é um dos mais pequenos mas dos mais profícuos
animais, pondo de cada vez doze ovos.
A seus
pés, uma galinha com os pintos recém-nascidos, saindo de cada ovo.
Do outro lado, uma lebre rodeada pelas crias.
O
zimbro é a planta que possui sementes capazes de alimentar os
animais. Os pintassilgos representam as crias, os filhos; as
galinhas, os ovos e os coelhos anunciam a fertilidade, que é a maior
bênção que uma mulher pode ter no casamento”.
Toda
esta imagem iconográfica (Mulher coroada com zimbro, acompanhada de
Ovos, Pintassilgos, coelhos, galinhas) evidencia a aspiração
ancestral do ser humano: o anseio de abastança, o desejo de
fertilidade e de fecundidade.
(...)
Fonte:
Os
equinócios são portais cuja travessia nos permite ascender a um
estado de consciência mais elevado e a um mais profundo conhecimento
de nós próprios. Pedem-nos que deixemos partir tudo o que já não
nos serve, abrindo assim espaço para o novo, que podemos então
acolher de todo o coração.
Os
equinócios (de aequus, ou igual, e nox,
ou noite) são, como o nome indica, períodos nos quais a noite dura
o mesmo tempo que o dia, ou seja, 12 horas. O equinócio é, a todos
os títulos, um momento excepcional no ano, quando o Sol, centro do
nosso sistema e sustento de toda a vida no planeta, determina o
equilíbrio perfeito dos pratos da balança cósmica. Pelo menos por
um instante, o instante equinocial, todas as possibilidades estão
suspensas na mais instável e delicada das harmonias.
(...)A
partir deste momento, a luz ganha a batalha contra a escuridão
invernal, e toda a Terra celebra a morte do ano velho e a entrada num
novo ano – embora por vezes, afirmam alguns, esta vitória da Luz
não se faça sem grandes perigos e agitação, associando-se os
momentos equinociais ao recrudescimento de guerras, sublevações e
catástrofes naturais. Afinal, dificilmente se abandona um sistema
por outro sem algum sofrimento e resistência.
Esta
é a época em que, conforme as nossas crenças e inclinações
naturais, festejamos a morte e ressurreição de Jesus, filho e fruto
de Maria, ou então o regresso de Perséfone, a Donzela, do mundo
subterrâneo, também ela símbolo da alma renascida após uma
descida às profundezas da materialidade. Este é o momento de
triunfo da Aurora, da Estrela da Manhã, de Astarte, Ísis, Afrodite,
Deméter e Maria, quando a Natureza carregada com as suas primícias
se revela num festival de abundância, sabores, cores e perfumes sem
par. Este é o tempo da Deusa fértil, dando à luz os rebentos
infinitamente variados de toda a Criação, e é também o tempo dos
seus filhos sagrados, sejam Cristo, Adónis, Osíris ou Dionísio, em
cada ano mortos como a vegetação mas destinados a renascer em cada
Primavera.
Nesta
altura do ano temos a oportunidade, mas também o dever, de fazer uma
verdadeira Limpeza da Primavera nas nossas vidas. Planear uma limpeza
ou organização da casa, ou de algum aspecto do nosso quotidiano,
pode ser uma boa maneira de dar início ao processo. A energia
equinocial apoia-nos neste momento, quando despertamos da letargia
invernal ávidos de luz, de ar puro e de beleza. Trata-se de deixar
entrar essa luz e ar e de criar essa beleza também em nós e no
mundo que nos rodeia, pelo qual somos responsáveis, e que, sendo um
Cosmos em miniatura, é símbolo do Universo inteiro. Sejamos nós
também Criadores, parceiros da Natureza, e exultantes com a nossa
própria Criação, por mais modesta que pareça.
(...)
Fonte: